O Romantismo no Brasil teve como marco fundador a publicação do livro de poemas "Suspiros poéticos e saudades", de Domingos José Gonçalves de Magalhães, em 1836,
e durou 45 anos. Nos primórdios dessa fase literária, 1833, um grupo de
jovens estudantes brasileiros em Paris, sob a orientação de Gonçalves
Magalhães e de Manuel de Araújo Porto Alegre, inicia um processo de renovação das letras, influenciados por Almeida Garret e pela leitura dos românticos franceses. Em 1836, ainda em Paris o mesmo grupo de brasileiros funda a Revista Brasiliense de Ciências, Letras e Artes,
cujos dois primeiros números traziam como epígrafe: "Tudo pelo Brasil e
para o Brasil". Ainda no mesmo ano, no Brasil - momento histórico em
que ocorre o Romantismo, 14 anos após a sua Independência - esse
movimento é visível pela valorização do nacionalismo e da liberdade,
sentimentos que se ajustavam ao espírito de um país que acabava de se
tornar uma nação rompendo com o domínio colonial.
De 1823 a 1831, o Brasil viveu um período conturbado como reflexo do autoritarismo de D. Pedro I: a dissolução da Assembléia Constituinte; a Constituição outorgada; a Confederação do Equador; a luta pelo trono português contra seu irmão D. Miguel; a acusação de ter mandado assassinar Líbero Badaró e, finalmente, a abdicação. Segue-se o período regencial
e a maioridade prematura de Pedro II. É neste ambiente confuso e
inseguro que surge o Romantismo brasileiro, carregado de lusofobia e,
principalmente, de nacionalismo.
Assim é que, a primeira geração do Romantismo destaca-se na tentativa
de diferenciar o movimento das origens européias e adaptá-lo, de
maneira nacionalista, à natureza exótica e ao passado histórico
brasileiros. Os primeiros românticos eram utópicos.[1]Para
criar uma nova identidade nacional, buscavam suas bases no nativismo do
período literário anterior, no elogio à terra e ao homem primitivo.
Inspirados em Montaigne e Rousseau idealizavam os índios como bons selvagens, cujos valores heróicos tomavam como modelo da formação do povo brasileiro.
Contexto histórico
Com o incremento da industrialização e do comércio, notadamente a partir da Revolução Industrial do século XVIII, a burguesia, na Europa,
vai ocupando espaço político e ideológico maior. As idéias do emergente
liberalismo incentivam a busca da realização individual, por parte do
cidadão comum. Nas últimas décadas do século, esse processo levou ao
surgimento, na Inglaterra e na Alemanha, de autores que caminhavam num
sentido contrário ao da racionalidade clássica e da valorização do
campo, conforme normas da arte vigente até então. Esses autores tendiam a
enfatizar o nacionalismo e identificavam-se com a sentimentalidade popular. Essas idéias foram o germe do que se denominou romantismo.
Algumas atitudes, e outras consequentes delas, foram se consolidando
e, ao chegarem à França, receberam um vigoroso impulso graças à Revolução Francesa de 1789.
Afinal, essas tendências literárias individualistas identificavam-se
amplamente com os princípios revolucionários franceses de derrubada do absolutismo
e ascensão da burguesia ao poder, através de uma aliança com camadas
populares. A partir daí, o ideário romântico espalhou-se por todo o
mundo ocidental, levando consigo o caráter de agitação e transgressão
que acompanhava os ideais revolucionários franceses que atemorizavam as
aristocracias européias. A desilusão com esses ideais lançaria muitos
românticos em uma situação de marginalidade em relação à própria
burguesia. Mesmo assim, devemos associar a ascensão burguesa à ascensão
do Romantismo na Europa.
Em Portugal, os ideais desse novo estilo encontram, a exemplo do que
ocorrera na França, um ambiente adequado ao seu teor revolucionário.
Opunham-se naquele país duas forças políticas: os monarquistas, que
pretendiam a manutenção do regime vigente, depois da expulsão das tropas
napoleônicas que tinham invadido o país em 1807; e os liberais, que
pretendiam sepultar de vez a Monarquia. A Revolução Constitucionalista do Porto,
(1820) representou um marco na luta liberal, mas os monarquistas
conseguiram manter o poder durante todo o período, marcando com
perseguições as biografias de muitos escritores daquele país, quase
sempre adeptos do Liberalismo.
Assim a revolução romântica alimenta-se, em Portugal, dessa revolução social e política. Os primeiros românticos, Almeida Garret, Alexandre Herculano e Antônio Feliciano de Castilho,
participam da Revolução Liberal e, vitoriosos em 1834, retornam do
exílio para implantar a nova literatura romântica. A segunda fase é
representada por Camilo Castelo Branco e a terceira geração (1860), por Júlio Dinis, marca a fase de transição para o Realismo da década de 1870.
Fundamentos teóricos
Três fundamentos do estilo romântico: o egocentrismo, o nacionalismo e
liberdade de expressão. Segundo Fabio Luiz Sobieski diz que;
Romantismo, ainda chamado de Romanticismo, foi um abalo artístico,
político e filosófico aparecido nas derradeiras décadas do século XVIII
na Europa que persistiu por boa parte do século XIX, diferenciando-se
como uma visão de mundo adversa ao racionalismo e ao iluminismo[2],
procurou um nacionalismo que viria a materializar os estados pátrios na
Europa.
O egocentrismo: também chamado de subjetivismo, ou
individualismo. Evidencia a tendência romântica à pessoalidade e ao
desligamento da sociedade. O artista volta-se para dentro de si mesmo,
colocando-se como centro do universo poético. A primeira pessoa ("eu")
ganha relevância nos poemas.
O nacionalismo: corresponde à valorização das particularidades
locais. Opondo-se ao registro de ambiente árcade, que se pautava pela
mesmice, vendo pastoralismo em todos os lugares, o Romantismo propõe um
destaque da chamada "cor local", isto é, o conjunto de aspectos
particulares de cada região. Esses aspectos envolvem componentes
geográficos, históricos e culturais. Assim, a cultura popular ganha
considerável espaço nas discussões intelectuais de elite.
A liberdade de expressão: é um dos pontos mais importantes da
escola romântica. "Nem regra , nem modelos "- afirma Victor Hugo, um dos
mais destacados românticos franceses. Pretendendo explorar as dimensões
variadas de seu próprio "eu", o artista se recusa a adaptar a expressão
de suas emoções a um conjunto de regras pré-estabelecido. Da mesma
forma, afasta-se de modelos artísticos consagrados, optando por uma
busca incessante da originalidade.
Como decorrência da supremacia do sujeito na estética romântica, o
sentimentalismo ganha destaque especial. A emoção supera a razão na
determinação das ações das personagens românticas. O amor, o ódio, a
amizade o respeito e a honra são valores sempre presentes.
Na sua luta contra a racionalidade, o artista romântico valoriza todo
e qualquer estado onírico, isto é, dominado pelo sonho, pela fantasia e
pela imaginação. São momentos de suspensão passageira ou definitiva da
razão que definem o ser humano passional, dentro do Romantismo. Toda
loucura é válida.
E se o mundo não corresponde aos anseios românticos, o artista parte
para a idealização criando um universo independente, particular,
original. Nesse universo ele deposita suas aspirações de liberdade e à
perfeição física. A figura da mulher amada, por exemplo, será associada à
sempre um exemplo moral a ser seguido pelos leitores, por sua inteireza
de caráter e sua moralidade irrepreensível.
Se de um lado temos sempre a figura do herói associada ao Bem, de
outro é quase obrigatória nos romances a presença de um vilão, que
encarna o Mal. Essa concepção moral de oposição absoluta entre Bem e Mal
recebe o nome de maniqueísmo. No romantismo, o maniqueísmo constituiu
mesmo a espinha dorsal das narrativas.
Normalmente, associamos o Romantismo a imagens de inocência e
lirismo, mas ele tem sua face escura, tétrica e trágica. O pessimismo
romântico aparece nas referências à morte e no arrebatamento passional,
que às vezes conduz à loucura ou aos finais infelizes.
A Natureza, tão fundamental no Neoclassicismo, ganhará contornos
particulares no Romantismo. No primeiro estilo, servia sempre como pano
de fundo harmoniosos para o cenário bucólico e pastoril. No segundo,
acompanha os estados de espírito do poeta ou das personagens dos
romances. Assim, momentos de tristeza ou desilusão corresponderão a
paisagens lúgubres; bem como instantes de alegria aparecerão sempre
associados a imagens luminosas.
O romântico, ao desenvolver um mundo particular, pode transformá-lo
em seu espaço de fuga: é o escapismo. As saídas, para o artista, são
aquelas apontadas anteriormente: o sonho, a morte, a Natureza exótica.
Ainda dentro do escapismo, destaque-se um espaço particular de fuga: o
passado. Ele pode aparecer de forma pessoal, associado à felicidade
inocente da infância, ou de maneira mais social, nas freqüentes alusões à
Idade Média.
Características
- Subjetivismo - A pessoalidade do autor está em destaque. A poesia e a prosa romântica apresentam uma visão particular da sociedade, de seus costumes e da vida como um todo.
- Sentimentalismo - Os sentimentos dos personagens entram em foco. O autor passa a usar a literatura como forma de explorar sentimentos comuns à sociedade, como: o amor, a cólera, a paixão etc. O sentimentalismo geralmente implica na exploração da temática amorosa e nos dramas de amor.
- Nacionalismo, ufanismo - Surge a necessidade de criar uma cultura genuinamente brasileira. Como uma forma de publicidade do Brasil, os autores brasileiros procuravam expressar uma opinião, um gosto, uma cultura e um jeito autênticos, livres de traços europeus.
- Maior liberdade formal - As produções literárias estavam livres para assumir a forma que quisessem, ou seja, entrava em evidência a expressão em detrimento da estrutura formal (versificação, rima etc).
- Vocabulário mais brasileiro - Como um meio de criar uma cultura brasileira original os artistas buscavam inspiração nas raízes pré-coloniais utilizando-se de vocábulos indígenas e regionalismos brasileiros para criar uma língua que tivesse a cara do Brasil.
- Religiosidade - A produção literária romântica, utiliza-se não só da fé católica como um meio de mostrar recato e austeridade, mas utiliza-se também da espiritualidade, expressando uma presença divina no ambiente natural.
- Mal do Século - Essa geração, também conhecida como Byroniana e Ultrarromantismo, recebeu a denominação de mal do século pela sua característica de abordar temas obscuros como a morte, amores impossíveis e a escuridão.
- Evasão - O artista romântico (do ultrarromantismo) interpretava o mundo como cruel e frequentemente buscava a fuga da sociedade que não o aceitava.
- Indianismo - O autor romântico utilizava-se da figura do índio como inspiração para seu trabalho, depositando em sua imagem a confiança num símbolo de patriotismo e brasilidade, adotando o indígena como a figura do herói nacional (bom selvagem).
- A idealização da realidade - A análise dos fatos, das aparências, dos costumes etc era muito superficial e pessoal, por isso era idealizada, imaginada, assim o sonho e o desejo invadiam o mundo real criando uma descrição romântica e mascarada dos fatos.
- Escapismo - Os artistas românticos procuravam fugir da opressão capitalista gerada pela revolução burguesa (revolução industrial). Apesar de criticarem a burguesia, os artistas tinham que ser sutis pois os burgueses eram os mecenas de sua literatura e por isso procuravam escapar da realidade através da idealização.
As formas de escape seriam as seguinte: Fuga no tempo, Fuga no sonho e
na imaginação, Fuga na loucura , Fuga no espaço e Fuga na morte.
- O culto à natureza - Com a busca de um passado indígena e de uma cultura naturalmente brasileira surge o culto ao natural, aos elementos da natureza, tão cultuados pelos índios. Passava-se a observar o ambiente natural como algo divino e puro.
- A idealização da Mulher (figura feminina)- a mulher era a fonte de toda a inspiração. Era intocável, vista como um anjo em que jamais poderiam desfrutar de suas caracteristicas puras e angelicais.
A Poesia Romântica
No Brasil, a poesia romântica é marcada, num primeiro momento, pelo
teor patriótico, de afirmação nacional, de compreensão do que era ser
brasileiro, ou pela expressão do eu, isto é, pela expressão dos
sentimentos mais íntimos, dos desejos mais pessoais, diferente do ideal
de imitação da natureza presente na poesia árcade. Isto tudo seguido de
uma revolução na linguagem poética, que passou a buscar uma proximidade
com o cotidiano das pessoas, com a linguagem do dia-a-dia. No poema
"Invocação do Anjo da Poesia", Gonçalves de Magalhães diz que vai
abandonar as convenções clássicas (cultura grega) em favor do sentimento
pessoal e do sentimento patriótico.
A poesia romântica surge em meio aos fervores independentistas da primeira metade do século XIX, tendo como marco inicial a obra de Gonçalves de Magalhães,
"Suspiros Poéticos e Saudades". Apesar de servir como marco de início
do romantismo no Brasil, a obra "Suspiros Poéticos e Saudades" não
apresenta grande notoriedade ou importância no cenário artístico poético
do romantismo brasileiro assim como as outras obras de Gonçalves de
Magalhães. De acordo com as características e vertentes assumidas por
cada poeta romântico, a poesia romântica pode ser dividida em:
Primeira geração - Indianista ou Nacionalista
- Influência direta da Independência do Brasil (1825)
- Nacionalismo, ufanismo
- Exaltação à natureza e à pátria
- O Índio como grande herói nacional
- Sentimentalismo
- Principais poetas
- Domingos José Gonçalves de Magalhães (1811 a 1882)
- Manuel de Araújo Porto Alegre (1806 a 1879)
- Antonio Gonçalves Dias (1823 a 1864)
Segunda geração - Ultrarromantismo ou Mal do Século
- Egocentrismo
- Ultrarromantismo - Há uma ênfase nos traços românticos. O sentimentalismo é ainda mais exagerado.
- Byronismo - Atitude amplamente cultivada entre os poetas da segunda geração romântica e relacionada ao poeta inglês Lord Byron. Caracteriza-se por mostrar um estilo de vida e uma forma particular de ver o mundo; um estilo de vida boêmia, noturna, voltada para o vício e os prazeres da bebida, do fumo e do sexo. Sua forma de ver o mundo é egocêntrica, narcisista, pessimista, angustiada e, por vezes, satânica.
- Spleen - Termo inglês que traduz o tédio, o desencanto, a insatisfação e a melancolia diante da vida (significa, literalmente, "baço").
- Mal do Século
- Fuga da realidade, evasão - Através da morte, do sonho, da loucura, do vinho, etc.
- Satanismo - A referência ao demônio, as cerimônias demoníacas proibidas e obscuras. O inferno é visto como prolongamento das dores e das orgias da Terra.
- A noite, o mistério - Preferência por ambientes fúnebres, noturnos, misteriosos, apropriados aos rituais satânicos e à reflexão sobre a morte, depressão e solidão.
- Mulher idealizada, distante - A figura feminina é freqüentemente um sonho, um anjo, inacessível. O amor não se concretiza e em alguns momentos o poeta assume o medo de amar.
- Principais poetas
Terceira geração - Condoreira
- 1888 - Abolição da Escravatura
- 1889 - Proclamação da República
- Influenciada pelos acontecimentos sociais, discursa sobre liberdade, questões sociais, o abolicionismo.
- Uso de exclamações, exageros, apóstrofes.
- Mulher presente, carnal.
- Volta-se para o futuro, progresso.
- Luta pela liberdade, temáticas sociais.
- Ainda fala sobre o amor.
- O condor simboliza a liberdade, por isso geração condoreira.
- Principais poetas
- Castro Alves - "O Poeta dos Escravos"
- Sousândrade"o Poeta da transição" considerado o poeta "divisor de águas" entre o Romantismo e a nova escola o Realismo.
A Prosa Romântica
A prosa romântica inicia-se com a publicação do primeiro romance brasileiro "O Filho do Pescador", de Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa em 1843. O primeiro romance brasileiro em folhetim foi "A Moreninha", de Joaquim Manuel de Macedo,
publicado em 1844. O romance brasileiro caracteriza-se por ser uma
"adaptação" do romance europeu, conservando a estrutura folhetinesca
européia, com início, meio e fim seguindo a ordem cronológica dos fatos.
O Romance brasileiro poderia ser dividido em duas fases: Antes de José de Alencar e Pós-José de Alencar, pois antes desse importante autor as narrativas eram basicamente urbanas, ambientadas no Rio de Janeiro, e apresentavam uma visão muito superficial dos hábitos e comportamentos da sociedade burguesa.
E com José de Alencar surgiram novos estilos de prosa romântica como
os romances regionalistas, históricos e indianistas e o romance passou a
ser mais crítico e realista. Os romances brasileiros fizeram muito
sucesso em sua época já que uniam o útil ao agradável: A estrutura
típica do romance europeu, ambientada nos cenários facilmente
identificáveis pelo leitor brasileiro(cafés, teatros, ruas de cidades
como o Rio de Janeiro).
O sucesso também se deve ao fato de que os romances eram feitos para a
classe burguesa, ressaltando o luxo e a pompa da vida social burguesa e
ocultando a hipocrisia dos costumes burgueses. Por isso pode-se dizer
que, no geral, o romance brasileiro era urbano, superficial,
folhetinesco e burguês. Dentre os vários romancistas românticos
brasileiros, merecem destaque:
Joaquim Manuel de Macedo
Célebre por dar início à produção prosaica do romantismo brasileiro,
Joaquim Manuel de Macedo ou Dr. Macedinho, como era conhecido pelo povo,
escreveu um dos mais populares romances da literatura romântica do
Brasil. O romance "A moreninha" fez um enorme sucesso dentre a classe
burguesa brasileira que se sentia extremamente agradada por um novo
projeto de literatura: A literatura original do Brasil. Uma literatura
que continuava a seguir os padrões das histórias de amor européias tão
populares entre a classe burguesa, mas que ao mesmo tempo inovava ao
trazer tais histórias tão clássicas para ambientes legitimamente
brasileiros que faziam os leitores identificarem os ambientes
mencionados. Trata-se de um escritor que estava voltado para as
narrativas urbanas e tinha como foco a cidade do Rio de Janeiro, capital do Império do Brasil, e a alta sociedade carioca em seus saraus e festas sociais. Seus romances em forma de folhetim, eram como as atuais telenovelas, só que escritos em episódios num jornal.
As obras de Joaquim Manuel de Macedo apresentam uma visão superficial
dos hábitos e comportamentos dos jovens da época, buscando ilustrar a
pompa e o luxo da alta classe capitalista,
e com isso, escondendo a hipocrisia e a dissimulação da burguesia. A
grande importância de sua obra é em despertar no público brasileiro, o
gosto pela produção literária nacional, ambientada em cenários
facilmente identificáveis. Seus romances posteriores a "A moreninha"
seguem sua mesma "fórmula". Dentre as principais obras de Joaquim Manuel
de Macedo estão:
- A Moreninha - É a história de um rapaz burguês que vai estudar medicina no Rio de Janeiro. Morando em uma república estudantil, Augusto, faz vários amigos, dentre eles Filipe que o convida para veranear na Ilha de Paquetá. Augusto aceita o convite, e ele e seus amigos apostam que ele não se apaixonaria por nenhuma moça, caso o fizesse, teria de escrever romances de amor revelando sua paixão. Augusto, contra a aposta com seus amigos, inevitavelmente se apaixona por Dona Carolina, irmã de Filipe, que recusa enamorar-se com Augusto pois em sua infância havia jurado amor eterno a um certo menino e Augusto, curiosamente, também havia jurado amor eterno e casamento a uma certa menina. Por fim, ao descobrirem que um era a paixão infantil do outro, entregam-se a esse sentimento. A pureza e discrição dos personagens, assim como a beleza de um amor pudico, conquistaram os leitores burgueses tornando esse romance um dos maiores sucessos do romantismo brasileiro.
José de Alencar
José de Alencar é considerado o patriarca da literatura
brasileira. Inaugurou novos estilos românticos e consolidou o
romantismo no Brasil desenhando o retrato cultural brasileiro de forma
completa e abrangente. E devido a essa visão ampla do cenário
brasileiro, sua obra iniciaria um período de transição entre Romantismo e
Realismo.
Suas narrativas apresentam um desenvolvimento dos conflitos femininos
da mulher burguesa do século XIX, já que seus romances a tinha como
público alvo. Sua obra pode ser fragmentada em três categorias:
Romances Urbanos
Romances ambientados no Rio de Janeiro, protagonizados por
personagens femininos, mostravam o luxo e a pompa das atividades sociais
burguesas, no entanto apresentavam uma critica sutil aos hábitos
hipócritas da burguesia e seu caráter capitalista. São exemplos de
romances urbanos de José de Alencar:
- Senhora - Faz crítica ao casamento por interesse, à hipocrisia, à cobiça e à soberba burguesa.
- Lucíola - Critica o fato de a burguesia, que financia a prostituição durante a noite, ter aversão às mesmas durante o dia.
- Diva - Ressalta a beleza das jovens e ricas burguesas, o virtuosismo e a pureza e, em contrapartida, critica o casamento por interesse financeiro.
Romances Regionalistas
Narrativas que se sucedem em centros afastados da capital imperial,
ou seja, histórias que acontecem em lugares tipicamente brasileiros,
mais pitorescos, menos influenciados pela cultura européia. Apesar de
José de Alencar narrar seus romances regionalistas com uma incrível
fluência e suavidade, as histórias narradas são superficiais devido ao
fato de que o autor não viajara para as regiões que descreveu, mas
pesquisara a fundo sobre elas. Basicamente, são romances que procuram
ser mais fiéis ao projeto de brasilidade e propaganda do Brasil
independente, o objetivo é fazer propaganda aos próprios brasileiros,
expondo a diversidade do país. São Exemplos de romances regionalistas de
José de Alencar:
Romances Históricos e Indianistas
Romances que revelam a preocupação de José de Alencar em exibir o índio como herói
nacional. Enquanto os autores românticos da europa retratavam o
saudosismo através de menções à época medieval, no Brasil, Alencar
procurou buscar na cultura indígena brasileira o passado fiel da
história brasileira. Seus romances trazem uma linguagem mais original,
com vocábulos do tupi,
retratam o índio como símbolo de bravura, de pureza e de amor ao
ambiente natural. Pode-se dizer que suas narrativas tendiam ao estilo
poético por entrelaçar o caráter básico da prosa com o lirismo do gênero
poético.
Em resumo, suas obras utilizam o indianismo como forma de revelar um
conceito mais original de brasilidade e criar um projeto de língua
brasileira. Dentre as obras mais importantes de José de Alencar nesse
ramo do romantismo, estão:
A Importância da Obra de José de Alencar
Considerado o mais importante escritor do Romantismo brasileiro, é ele quem consegue expressar o perfeito retrato da cultura
brasileira, explorando novas vertentes da produção literária, criando e
abrindo caminhos para a criação de uma literatura brasileira original,
ampla e de boa qualidade. E por isso foi o autor que mais se aproximou
do objetivo da escola romântica, mesclando a idealização e o sonho com
um realismo sutil, valorizando os elementos naturais da cultura
brasileira e o índio como figura-mãe da original cultura brasileira.
Suas obras foram capazes de inspirar nos burgueses o gosto pela leitura
nacional e também, de inspirar diversos autores a seguir caminhos por
ele traçados, concretizando assim seu projeto nacionalista de revelar o
Brasil num todo.
Bernardo Guimarães
Considerado um dos mais importantes regionalistas românticos
brasileiros, opta por seguir um dos caminhos traçados por José de
Alencar ambientando suas tramas nos estados de Minas Gerais e Goiás.
Suas obras conservam o caráter linear romântico, apresentando a
estrutura folhetinesca típica de sua época; prezam pela valorização do
pitoresco e do regional, resgatando os hábitos típicos da sociedade
imperial. Caracteriza-se por usar, por vezes, a linguagem oral em sua
obra e fazer críticas sutis aos sistemas patriarcal, clerical e escravocrata do Brasil Império. Entres suas principais obras, destacam-se:
- A Escrava Isaura - Fez grande sucesso enquanto livro, tão notável que foi adaptado como novela da Rede Globo e da Rede Record. Bernardo Guimarães tentou criticar a escravatura no Brasil, patrocinando, através de sua obra, o abolicionismo, no entanto sua crítica se mostrou um tanto malsucedida pois a personagem principal, Isaura, era uma escrava branca, e a antagonista, uma mucama negra, o que incitou nos leitores uma raiva da personagem negra e um sentimento de pena e compaixão da escrava branca Isaura. Pode-se dizer que não atingiu seu objetivo realista devido a sua crítica equivocada, mas conquistou enorme admiração e já nos permite identificar traços de uma literatura brasileira mais realista. Apresenta o caráter sentimentalista romântico das histórias de amor terminando com seu devido final feliz.
- O Seminarista - Não tão notório quanto a obra acima, mas não por isso perdeu seu valor literário. Critica o sistema patriarcal da época e principalmente o sistema clerical, mencionando a inadequação do jovem à vida religiosa imposta pela família. Assim como "A escrava Isaura", é uma história de amor, que permite-nos observar sentimentos em conflito com uma realidade imposta pela sociedade (o jovem que não pode amar pois fora forçado a ser padre por sua família). Ao contrário da primeira obra, apresenta um final trágico no qual o protagonista enlouquece ao saber da morte de sua amada.
Franklin Távora
Um dos mais importantes escritores
do romance regionalista brasileiro, Franklin Távora foi o primeiro
autor romântico a escrever sobre o cangaço nordestino e um dos mais
assíduos críticos do romantismo de José de Alencar
pois acreditava num romantismo mais realista, menos idealizado, tanto
que suas obras oscilam entre o romântico e o realista. Sua literatura
era baseada no "Projeto de uma Literatura do Norte", o que ele fez foi
explorar as regiões Norte e Nordeste
do Brasil, apoiado em sua teoria de que essas eram as regiões mais
brasileiras por serem as menos exploradas pelos brancos europeus,
conservando assim um caráter mais típico e mais real da cultura do
Brasil. Suas obras valorizavam bastante a questão regional, prezando
pelo pitoresco e peculiar das regiões que se preocupou em retratar,
assim ele pode expressar os costumes, as características e a realidade,
até então pouco explorados, da população do interior do Brasil de forma
detalhada e realista. Os romances de Franklin Távora são marcados por
sua objetividade, característica do realismo,
e por uma análise justa do ambiente que procurava descrever, e devido a
esses fatores sua produção literária, pode-se dizer, que oscila entre o
romantismo e o realismo. Apesar de um grande envolvimento com a causa
realista, a obra de Franklin Távora é considerada romântica devido ao
fato de conservar o caráter linear e a temática amorosa que marcam a
escola romântica brasileira. Dentre seus principais romances estão:
- O Cabeleira - Trata-se de seu romance mais importante. Sua história se desenrola sobre a temática do cangaço nordestino, tendo como protagonista o Cabeleira, o chefe de um bando de cangaceiros assaltantes. O Cabeleira termina por largar o banditismo em favor de seu amor por Luizinha. Apresenta fortes traços de realismo por ser justo e fiel aos fatos e ao ambiente, no entanto permanece idealizador na questão sentimental, cuja idéia principal é que o amor quebra qualquer barreira.
Visconde de Taunay
Outro importante autor da vertente regionalista do romantismo brasileiro, que tomou por cenário de suas narrativas a província de Mato Grosso.
Sua obra caracteriza-se pela precisão de detalhes e pela descrição
minuciosa da paisagem mato-grossense, abusando de detalhes sobre a
flora, a fauna e o relevo do cerrado central do Brasil. Seus romances
apresentam a habitual estrutura romântica linear e acessórios realistas.
Caracterizados por estarem integrados à vertente sertanista,
preocupando-se em retratar de forma rica e real o ambiente particular da
região centro-oeste brasileira. Dentre as principais de obras de Visconde de Taunay estão:
- Inocência - O romance tem como protagonistas a pura e ingênua Inocência, que é vendida pelo pai ao fazendeiro Manecão, e Cirino, um curandeiro que se finge de médico para ganhar a vida e que numa de suas "consultas" cura Inocência e entrega uma carta ao pai da moça, Seu Pereira. Inocência e Cirino se apaixonam, e a frágil moça se torna forte em nome de seu real amor, num de seus encontros amorosos o casal é descoberto o que leva Seu Pereira e Manecão a planejarem uma emboscada para Cirino. Cirino e Inocência terminam mortos. Visconde de Taunay inova por apresentar um desfecho infeliz com a morte dos dois protagonistas.
Manuel Antônio de Almeida
O que melhor descreve a sua importância no romantismo brasileiro é o seu envolvimento com o romance de costumes. Sua obra procurou retratar os hábitos, a moda, o folclore e a religiosidade das classes populares do início do século XIX,
desmascarando violentamente a baixa sociedade brasileira colonial, o
que a torna singular dentre as obras românticas que procuraram tratar
dos costumes e dos valores da alta sociedade imperial. Seu romance de
costumes ironizava os padrões e normas românticos, criticava a
desequilibrada baixa classe brasileira sarcasticamente e pôs em crise a
idealização romântica devido ao fato de seus personagens serem
malandros, cafajestes e praticamente marginais. Um dos principais traços
da obra de Manuel Antônio de Almeida é o predomínio do humor sobre o dramático,
suas personagens eram caricaturizadas, com ênfase aos seu defeitos, os
acontecimentos da trama desmentiam as aparências das personagens (o
quebra mais um padrão romântico cujas obras apresentavam acontecimentos
que validavam as aparências das personagens). Seu romance era Picaresco,
relativo a picadeiro, ou seja, eram romances cômicos e tendiam ao
patético, substituindo o dramático habitual do romantismo por um humor
crítico e sagaz. Sua produção apresenta uma ausência da tragédia humana
em função de quebrar mais um cacoete romântico. Caracteriza-se como autor precursor do realismo
por sua objetividade e sua descrença nos valores sociais, destruindo
assim, o caráter subjetivo e bajulador do romantismo. Apesar de toda
essa quebra de valores, não só a sua localização temporal, mas também a
presença da linearidade e a proteção dos valores burgueses, encaixam a
sua obra dentro do romantismo brasileiro. Dentre as obras de Manuel
Antônio de Almeida destaca-se:
- Memórias de um Sargento de Milícias - Conta a história de Leonardo, um homem que conta as memórias de sua vida desgraçada. Filho de Leonardo Pataca e Maria das Hortaliças, Leonardo foi abandonado ainda criança por sua mãe, que fugiu com um marinheiro, e por seu pai que não o queria. Passou a viver com o padrinho que não tinha filhos e o criara com muita dedicação, encobrindo todas as suas travessuras. Era um menino insuportável. Mais tarde torna-se um boêmio arruaceiro, que quase sempre era preso e logo depois solto teve por um bom tempo o sargento Vidigal em sua cola. Devido a essa freqüência na cadeia, Leonardo cria amizades no meio militar e logo, por apadrinhamento, ganha a patente de sargento de milícias. Após ganhar tal cargo, decide-se casar para fazer jus à sua patente casa-se com Luisinha que estava recém viúva e foi o primeiro amor na sua adolescência. "Memórias de um Sargento de milícias" causou um grande impacto no público burguês, sendo lido principalmente por intelectuais da literatura da época e alcançando o ápice de sucesso após a morte de Manuel Antônio de Almeida em um naufrágio. A narrativa é linear, apesar de "começar pelo final", é farta de humor, e o núcleo principal caracteriza-se pela falta de classe e de valores.
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